Saídas de Emergência


Passada uma semana do acontecido, lembro-me eu como se eu tivesse observando eu mesma sentada no ônibus com os pensamentos a mil. Lá estava eu voltando da faculdade, quando chamou minha atenção àquela luzinha vermelha escrita ‘saída de emergência’. Ela, aparentemente, é tão insignificante estando apenas ali. Porém em situações de risco ela é a coisa que mais buscamos na hora do desespero. Como uma pessoa que nunca sofreu nenhum acidente que necessitasse daqueles martelinhos ou até mesmo da luz de saída de emergência fico imaginando toda vez que sento em uma dessas janelas o que acontece na hora do desespero. Acho aqueles martelos tão bem presos, e fico pensando na força que a pessoa acaba tendo na hora para arrancá-lo da parede e usá-lo. Mas pensando melhor e mais afundo, a vida é um constante desespero que exige forças para encontrar as saídas de emergência.
Seguindo minha linha de raciocínio comparo a situação com um acontecimento rotineiro que me angustiava no momento: Um trabalho imenso de pesquisa. O tempo afunilava a situação e aumentava ainda mais meu desespero. A função de eu procurar urgentemente a melhor forma de terminar o trabalho logo, a responsabilidade de terminar a tempo de repassá-lo para as minhas colegas e a preocupação em me preparar bem para a apresentação que aconteceria na segunda-feira seguinte me privava de encontrar uma solução. Entrelaçando os assuntos, quantas pessoas acabam morrendo por não acharem uma saída de emergência a tempo de se salvar? O meu medo não era da morte, mas das notas baixas, da rotulação de irresponsável, ou até mesmo da vergonha de ter que pedir um prazo maior para a professora. Fim de semestre é a busca incessante de saída de emergência.
Poderia por milhões mais de situações que fazem buscar uma saída de emergência no cotidiano, mas acho que me fiz entender nesse exemplo, então posso seguir meu raciocínio mais afundo. A preocupação, a agonia, o medo fazem-nos morrer lentamente cada dia. A questão de querermos poupar discussões, esconder sentimentos, abafar o choro são coisas que nos matam. A luta contra nós mesmos nos mata aos poucos. Talvez essa minha explanação tenha alguma explicação pela psicologia, psiquiatria, neurociência e tudo mais que estuda o ser humano – quero conhecer mais afundo isso também -. Acredito que essa tenha alguma ligação plausível com doentes mentais, ou também com coisas parecidas com as que são consideradas loucuras.
Mas o mais interessante é como as outras pessoas encontram soluções para nossos problemas. Parecem problemas tão pequenos. Parece que todo mundo sofre com as mesmas coisas, se agoniza com as mesmas coisas e que todo mundo encontra a solução que tá na frente do teu nariz, mas que tu buscou tão além que não paro pra olha o detalhe que tava incomodando a visão ali, tão perto. “Se fosse um bicho me picava”. 
E o mais perturbador é que isso acontece em tudo, no amor, nos estudos, no ambiente familiar, no lazer, com os amigos. A vida parece ter um roteiro pronto. O elenco formado com as pessoas que é pra ti conhecer. Os episódios montados pra ti busca sempre, em todas as inúmeras situações, novas saídas de emergência. Nem sempre a solução está nos outros, as vezes encontra-se hospedada dentro de ti mesmo. Às vezes, presta atenção nos detalhes também é parte dessa constituição de nós como seres humanos. Às vezes a visualização daquela pequena luzinha de saída de emergência faz surgir questionamentos loucos com mais buscas sem solução, e também um texto sem conclusão alguma.

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