Captado e fixado

Cheguei no estúdio, larguei minha bolsa e sentei a espera da minha cliente. Quando olhei pra tela do meu computador vi uma mensagem nova no meu e-mail. "Gostaria de fechar aquele pacote para Sophia, ainda tem o mesmo horário vago?" Mera coincidência de nomes talvez. Respondi confirmando. Apesar de achar um tanto curioso esse homem aparecer na minha vida dessa forma e me marcar por causa desse nome e de uma história que eu nem sei qual é, acabei nem pensando muito no assunto e achei que fosse o acaso mesmo. Minha cliente chegou, saímos para o lugar que ela desejava suas fotos e após o trabalho finalizado voltamos ao estúdio e fechamos a data para o ensaio. Pronto, agora realmente livre para pensar e procurar essas pessoas um tanto desconhecidas e curiosas. Mal esperava para que chegasse logo o "amanhã", aquela mesma hora e que a minha dúvida acabasse, ou talvez me perturbasse ainda mais por alguns outros motivos. Quando eu me preparava para fechar o estúdio pensei em levar a câmera, não sei porque, mas decidi obedecer minha intuição. Ao voltar pra casa passei no parque novamente, sentei e fiquei a observar tudo o que acontecia ao meu redor - como naquele dia que conheci Oscar-. Havia crianças empinando pipa, jovens de bicicleta, pessoas fazendo suas caminhadas do final de tarde e idosos sentados conversando. Havia também eu, sentada naquele banco que caberia no mínimo mais duas pessoas junto a mim, minha bolsa largada sobre minhas pernas e minha câmera aconchegada em cima. Comecei a fitar essas cenas como se fossem fotos captadas. Saí completamente do meu mundo, na realidade, fui para o meu mundo. Fiquei tão desligada que não percebi que uma criança sentou do meu lado e e ficou me olhando. "Oi tia, está tudo bem?" Mexi a cabeça acordando e olhei para aquela menina. Tinha cabelos claros e dourados, um olho bem azul e sorriso marcante. "Tudo bem sim -sorri- Porque você não vai brincar?" "To sem vontade, tia" Ficamos as duas olhando para o resto do parque sem ação, palavras ou assunto. "Tia, o que é isso? Tu é fotógrafa?-disse ela apontando para minha câmera-" "Sim." Eu me encontrava tão desligada que não percebi que ela queria mesmo era pegar o "novo brinquedo" e ver como funcionava. Ela passou a mão cuidadosamente sobre o obturador e fitou uma cena dizendo "Ficaria uma boa foto, né?!". Falei pra ela ir lá. Saiu correndo e parou posando para uma foto. Tirei essa foto dela e ela voltou correndo mais rápido que antes. "Deixa eu ver! -olhou a foto- Não sou muito fotogênica né, tia..." "Claro que é, tá linda, olha!" Olhou de novo pra câmera e fez sinal de não com a cabeça. "Tia... meu sonho é ser fotógrafa.. não gosto de ser modelo." Nisso chega uma voz masculina conhecida chamando por Sophia. A menina olha e depois dela, eu. Pensei em quem seria o dono dessa voz que me era tão familiar. Nem me passou na cabeça que o nome da menina era Sophia. Olhei para ele, ali estava Oscar com Sophia em seus braços olhando surpreso pra mim.

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